quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

10 mil e XII

Naqueles dias em que apetece apenas existir. Um tributo à mera vivência: Ao barulho dos copos no balcão e à passagem das pessoas na rua. Um piscar de olhos aos ponteiros do relógio, como se lhes dissesse "até não sei quando". Ao sol na cara, à chuva do dia seguinte e ao ar que tarda em entrar.

Nesses dias em que já tudo foi dito. Em que não vale a pena correr e tudo pára no mesmo sofá, onde os carris do comboio massajam as costas e o telefone é música para os ouvidos. O estalar do gelo no whisky são os gemidos da minha alma e o olhar desfocado sufoca a realidade destas quatro paredes.

Nestes dias em que apareces à memória de anos sem fim à vista, misturando-te com a certeza de um futuro condenado. Parando o relógio na hora de ponta, é a ti o meu brinde. A tua mão tépida nos meus dedos gelados, sem nunca se dar ao inferno entre nós.

Noutros dias onde finjo sem tremer. Onde carrego no bolso a chama, transparente aos olhos do mundo. Bebo o fumo e tomo as rédeas do tempo. Naquelas, nessas e nestas vivências tenho muito para dizer. Ainda mais para te mostrar.

Foto de Neil Krug

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