segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

O Otário


Bem, é meia-noite e existe um sujeito num prédio abandonado, algures a luz da sua gambiarra ilumina paredes descarnadas em tijolo e cimento. Um rádio toca lá no fundo de um quarto inacabado e tudo se ouve em chuva electrónica. Ele queria ir a todo o lado, mas não vai a lado nenhum.

Ninguém vem falar com ele e onde está os segredos ressoam pelas paredes mais nitidamente que o velho transístor. É da janela que vê. A ti. A mim. Esgrimindo mentiras em verdades disfarçadas de segredos. Nós somos tudo menos o aspecto limpo e bem vestido que aparentamos. Não interessa o que escondes debaixo do cabelo. Ele já viu. Tantas vezes.

Quem és tu? O que vi eu? Inventei eu uma mentira ao julgar-te diferente? Aquela que tantas vezes proferes sem querer saber se eu sei. Di-la tornando-a verdade?

Na insignificância ele vê-nos aos dois. Fingindo não nos importar. Mas será assim? Um bluff glorificado… Depois de tudo e do que devia saber, era de esperar que acabasse de outra maneira, mas quero pagar para ver... enquanto ele olha e te conhece pelo som dos passos, cada vez mais distantes, para não voltar.