quarta-feira, 28 de abril de 2010

Pensamento auto-destrutivo do dia

Como tenho que escrever qualquer coisa entre músicas (o próximo conto ainda deve demorar)...

"Será que me safava se voltasse para casa em contra mão?"

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Daturah - Reverie

Para o fim de semana, deixo-vos com post rock à séria. Na senda de muito do que determinou a sonoridade do género, mas tudo o que é bem feito também é raro, hoje em dia. Os Daturah são um conjunto alemão que já vem provando a sua força além fronteiras. O seu segundo registo de estúdio, Reverie, consegue mesmo superar o primeiro, auto intitulado, e fica como um dos álbuns de 2008. Baixem e fiquem com a fantástica Hybrisma...

quarta-feira, 21 de abril de 2010

A Máscara: Conclusão – La Casa dalle Finestre Che Ridono

Se leram até ao fim lamento desiludir-vos (ou não mesmo) que a ficção acabou no “finalmente”. Antes, impõe-se uma nota final, um agradecimento especial ao Zica, que incentivou a desenvolver esta história, viu-a para além do que eu vi e fê-la dele antes de ser minha.

Originariamente, escrevi as duas primeiras partes como uma reflexão, um pensamento meio solto, meio dirigido... como já estão habituados, certo? A premissa base era a de uma mulher vítima de um crime violento, neste caso a violação (não que se pretenda banalizar ou sequer retratar, mas o oposto) e o modo como isso a transforma. Mais universalmente falando, a tónica da história está no modo como as pessoas lidam com os seus traumas.

O tema da máscara pareceu-me adequado e foi usado como título pela simbologia, que unifica os dois lados do trauma, a vítima e o agressor (ou assassino...). Como muito do que escrevo aqui, este paradigma é um exemplo absoluto, destinado à relativização, isto é, ninguém é imaculado, todos são capazes de se identificar numa situação traumática. Todos usamos máscaras e só as tiramos ou mostramos, a quem e quando queremos.

Se nas duas primeiras partes, essa ideia é vaga e etérea, a partir daí torna-se bastante mais palpável. Ambas as personagens têm um passado que as marcou de alguma maneira (Laura com o abuso do corpo e Carlos abusado por Laura) e tentam-no mascarar. O crime, o trauma, só vem tirar essas máscaras e mostrar a “face” alterada das personagens. Veja-se: Ela escolhe reagir através de uma postura agressiva contra todas as pessoas em geral, sonhando até estar na pele do assassino (na “realidade” não tinha morto ninguém, mas, figurativamente, Laura sentiu que uma parte dela morreu e reviu-se nesse prisma), acabando por se tornar “nele”; Carlos foi magoado por ela e acabou por ser a violação a reuni-los, a fazê-lo estender a sua mão de novo, acabando por sair mal outra vez.

Aliás, o caminho e as mudanças que os personagens tomaram, já estava dentro deles: Laura ao início, teve uma premonição, de uma mulher de escamas que lhe dizia algo; e ele optou sempre por voltar para junto dela, só para ser afastado. Portanto, tratou-se um ciclo, desenvolvendo-se a narrativa dentro dele. Sendo as 2 partes iniciais a premissa base de toda a história (vagas e ao mesmo tempo precisas, como se fossem um sonho tornado real...): um crime; uma mulher altiva e manipuladora; e um homem que não a pode ter, sabe disso, mas por sina, fado ou destino é atraído para ela como o metal para o íman.

No fim, acaba por ser um pouco a história de todos nós ou pelo menos a minha, já que me assumo como um romântico inveterado. A humanidade construiu-se a lutar contra o destino, sempre a desafiar o impossível. Este pseudo conto revê-se nisso, ainda que, numa visão bastante pessimista.

PS: os sub-títulos em italiano são obviamente referências ao cinema choque de terror e mistério (giallo e zombies) dos anos 70. Só para reforçar o aspecto sórdido da narrativa.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

A Máscara: Parte VI – La Maschera Del Demonio


Debaixo da luz trémula do quarto de hospital, onde Laura se encontrava, Carlos olhava pensativamente para o seu reflexo na janela, parecia uma figura de cera derretendo-se, no efeito da chuvada que caía nessa noite. O escuro da noite era uma capa negra, sobre as várias camadas de água escorrendo-lhe pela face na janela, uma e outra vez, como se o seu semblante lhe caísse aos pés, mas continuava lá... com aquele sorriso malévolo, pensou Laura.

A sua pele eriçava-se ao olhar para ele, arrepiava-a imaginar-se no mesmo quarto que o homem que lhe havia invadido o corpo, quebrando-lhe a dignidade. Agora estava ali, como uma estátua, panopticamente, vigiando-a, perscrutando os seus sonhos, inspirando o seu ar, mantendo-a numa prisão de sufoco. Ela sabia. Ele dera-se a conhecer. O disfarce não o era, a máscara era a sua verdadeira pele. Um animal de sangue frio, um colosso entre as mulheres e uma fraca desculpa para homem. Ela conhecia-o.

Fingiu uma ida à casa de banho para – aproveitando a sua distracção – escapar daquele quarto. O corredor encontrava-se deserto e Laura segue-o, titubeante, procurando por ajuda. O odor forte a éter e os gemidos ominosos, vindos dos outros quartos, provocam-lhe tonturas nauseantes. A luz branca do corredor encandeia-a e as forças começam a abandona-la. “Ele não tarda aí... caminhando impavidamente, fazendo ouvir os seus passos como um batimento cardíaco, perseguindo-me, implacável, imparável”, ele virá, disse para si.

Reunindo as suas forças, abre a porta para a escadaria e começa a trepar os degraus para o primeiro andar. “Ele pensa que eu vou tentar fugir para baixo, mas escondo-me num dos quartos de cima – uma agulha num palheiro...”. Com a lâmpada de emergência fundida, subir no escuro até ao patamar de cima era um esforço sobre-humano. Ardia, de cada vez que arrastava o cotovelo ensanguentado pelo chão frio, no entanto, já conseguia ver luz irradiando pela fresta da porta do primeiro andar. Só mais um pouco... Mas, já não estava só, o estrondo da porta debaixo a bater, penetrou-lhe os ouvidos como um choque eléctrico.

“Laura? Estás aí?”, chamou Carlos. Não fazia ideia onde ela podia estar. O pânico que sentiu quando deu conta da sua fuga, assombrou-o com a potência de dez cafés e mesmo assim, subia pela escuridão, lento e medroso. Onde estaria ela? Não. Porque fugiu? As perguntas ecoavam na cabeça e nem depois de alguns passos se apercebeu que o chão estava escorregadio, do suor e sangue dela. Pára, de súbito, chocado pelos olhos vermelhos brilhando atrás do cabelo negro de Laura, espigado e desgrenhado como palha. Furiosa como a face do demónio, investiu sobre ele.

Mecanicamente, soltou um gemido à passagem de Carlos. “Estás aqui...”, exclamou ele, sorrindo. Quando percebeu o que tinha de fazer, já o havia feito. Empurrando-o, sem a misericórdia que o assassino nunca demonstrara, do patamar abaixo. Exaltando-se em gáudio, num clamor mental ao ver o crânio embater contra o vértice da escada, esvaindo-se no vermelho do sangue. Estaria tudo acabado?

Olhou à sua volta encontrava-se agora rodeada de capuzes negros sussurrando entre si:
- “Matou um homem...”;
- “Alguém que chame a polícia!”;
- “Louca...”
- “Só pode!”
- “Agarrem-na com força”
Incapaz de ver as suas caras, a última memória sã de Laura foi a visão do quarto branco onde a fecharam. As almofadas na parede reconfortavam-na, sentindo-se amparada e a luz áurea e forte nunca se apagava, para manter as trevas ao longe. Estava segura, finalmente.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Ulver - Shadows Of The Sun

Dos melhores discos que já se lançaram neste milénio. Sem espinhas, sem exageros, Shadows of The Sun é brilhante, soturno e melancólico. É o registo mais intimista dos Ulver e tem aquele condão, de tudo encaixar, desde de o ambiente à capa, Shadows of The Sun mantém o nível de qualidade num universo aparte. Infelizmente não encontrei registos ao vivo dignos da chancela deste álbum pelo que fica a versão de estúdio da cover dos Black Sabbath, Solitude. Baixem aqui, mas fica a dica: este merece ser ouvido em toda sua glória, por isso comprem que não se vão arrepender.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

A Máscara - Parte V: L'Aldilà


Na maior parte das vezes ao imaginarmos a dor forte de alguém, pensamos em algo que soa tão terrível que, se acontecesse connosco uma parte de nós morreria, como se nos tirassem a razão para viver. Carlos olhava solenemente para Laura, à espera de ver uma ferida aberta, como se a pudesse fechar, com tempo e preserverança. Não. Esta era completamente diferente – Nesse instante, Laura abriu os olhos e viu para além da vista...

Tinha sido deixada numa estrada escura, iluminada ao longe por uma candeia. Olhava em volta e via o bafo da sua respiração, mas não estava frio. Não se sentia em si, os movimentos que fazia não eram os dela e não conhecia medo, nem desconforto naquele lugar. Era parte dele. Vestia o negro da noite e gelava tudo ao seu caminho, aproximando-se, a passo, da luz. A candeia de petróleo iluminava uma cabana de madeira, no meio das árvores. Passou-lhe a ironia, de que a floresta escondia a prova da sua morte pelo homem.

Andando pelo ar, sem se mover, pegou na candeia e entrou. Lá dentro, parecia-lhe a casa maior do que tinha julgado. O chão não o era, e a terra barrenta continuava a amparar-lhe os passos, em sulcos. As paredes interiores eram feitas de troncos finos, como grades de prisão. Parada na ombreira da porta, Laura respirou o silêncio... até que quietude das trevas foi interrompida por um gemido, logo seguindo-se o soluçar, gradual até se dissolver fluidamente num choro copioso que conhecia tão bem.

Deitada em cima de uns trapos velhos, estava uma rapariga ferida e acorrentada ao chão. Não tinha mais que 20 e poucos anos, os cabelos louros tinham sido pintados de verde, com as latas de grafitti que estavam espalhadas em redor. Aliás, ao pendurar a candeia, na trave de suporte ao telhado, notou que toda ela tinha sido pintada.

De súbito viu-se a pegar fogo aos trapos, imolando a pobre mulher, que se contorcia e debatia em vão, gritando de dor como nunca tinha ouvido alguém gritar. A cena durou longos segundos, talvez até minutos e Laura continuava a não sentir nada, mesmo sabendo o crime hediondo que havia cometido. As chamas eram superficiais e quando a pele que cobriam esturricou, a mulher ainda tinha uma réstia de vida. Como se fossem escamas esverdeadas, viu os seus lábios proferirem num último suspiro: “Eu conheço-te...”

Voltou costas àquela cena e viu-se de frente ao espelho, envergando um capuz negro e uma máscara branca, enquanto escutava em eco o som das suas próprias gargalhadas. Laura viu tudo isso pelos olhos do seu opressor... ainda perdida no ruído tenebroso do seu gáudio, acordou. E naquele instante em que o sonho se confunde com o real, o sorriso pálido da máscara decalcou-se em Carlos, que lhe segurava a mão. “Eu conheço-te...”, disse ela, sem medo ou terror, antes de voltar a cair no sono dos sedativos.

terça-feira, 6 de abril de 2010

A Máscara - Parte IV: Intermezzo


O cheiro a éter começava a incomodar-lhe os pensamentos... estava há 2 horas sentado no mesmo banco de hospital, enquanto aguardava que Laura acordasse. Carlos não conseguiu deixar de se sentir estranhamente nostálgico ao ver o seu reflexo no chão polido do corredor; seria esse o rosto que ela conhecia? Passaram dois anos, desde o dia que se despediram. Dois anos seriam mais dois nos seus 32, ainda assim, havia uma mágoa, um sabor agridoce que ficava quando pensava nesse dia. “Tinha ido vê-la para lhe contar do emprego novo, estava tão aliviado por ver a sua vida andar outra vez. Ansiava pelo orgulho dela, por lhe mostrar que não era um falhado. Ela sorriu, condescendente, quase indiferente”.

A enfermeira tocou-lhe ao de leve no ombro e fez-lhe sinal para entrar. Não sabia o que esperar, não lhe voltavam à memória as palavras certas para dizer. A desconfiança, o medo e o egoísmo toldavam-no no seu âmago, não estava ali só para a ajudar, antes estaria para a confrontar. Porque, se o tivesse aceite, se o tivesse deixado protege-la, não estaria ali sedada e quebrada.

Haviam 3 dias desde que tinha sabido, por amigos em comum, do ataque. Ela parecia tão frágil e pacífica agora. Queria passar-lhe livremente a mão pelos cabelos, de um castanho quase negro, suave e carinhosamente como tantas vezes desejou fazer. Queria segurar-lhe a mão e sentir-lhe a pele delicadamente branca e fina. Podia fazer isso tudo sem ser afastado por ela ou pelo que restava da sombra de uma mulher fria e bruta.

Lá fora ouvia pessoas a cirandar, a urgência de vidas para salvar, de corpos a tratar. Aqui ninguém se mexia, nem ele nem ela iriam a lado nenhum. As suas almas estavam imóveis e naquele momento a sua mente divagou, numa espécie de zapping, lembrando-o do que foi apaixonar-se por Laura: Quando a conheceu, ela estava num farrapo emocional, desesperava por um ombro forte. Deu-lhe o melhor de si e cuidou de a reabilitar. Depois, foi dispensado, vagarosamente, sem saber porquê, até descobrir que havia mais alguém. Hoje usaria uma máscara para disfarçar a sua amargura.

Olhava agora fixamente para a sua face adormecida, dócil, mas gasta e pesada... não era essa a sua verdadeira face. Disseram-lhe que após ter falado com a polícia, não voltara a proferir duas palavras seguidas. Carlos não conseguia imaginar o terror por que ela tinha passado. Estava imponente para fazer alguma coisa, para a fazer esquecer. “Queria voltar a ser o seu salvador, mostrar-lhe a sua utilidade, a sua lealdade”...quando ela finalmente acordou.

domingo, 4 de abril de 2010

Maserati - Inventions For The New Season

Mais uma daquelas bandas de ninguém ouviu falar... só que deviam ter ouvido. Maserati é muito à frente e este álbum marcou um post rock mais ácido, tipo Floyd meio speedado. Vejam a Show Me The Season ao vivo e baixem para uma voltinha.