terça-feira, 4 de março de 2014

Beck - Morning Phase

Quantas voltas já deu Beck para nos habituar à postura "Bowieana", cuja identidade é não ter uma (pelo menos bem definida)? No entanto, este Morning Phase soa tanto ao Sea Change que parece bom demais para acreditar. Sea Change foi escrito no rescaldo de uma ruptura amorosa e onde antes se cantava num rap-indie-alternativo-pedrado sobre mosaicos sonoros apanhados aqui e ali, deu lugar a um fluxo sóbrio de canções sonhadoras, alargando os tais mosaicos para o horizonte de um passeio nocturno.

Em Morning Phase voltou muito do pessoal que ajudou a fazer o seu brilhante antecessor, tais como Roger Joseph Manning Jr., Jason Falkner and Joey Waronker, bem como, uma fenomenal secção de cordas liderada pelo seu pai. Este álbum distingue-se, sobretudo, pela evocação de experiências diferentes: a noite dá lugar ao crepúsculo, a expansividade à imensidão (os segmentos orquestrais assim inspiram) e languidez nas canções faz mais sentido, ideal para ouvir a dois.

Felizmente, não foi concebido num registo folk purista – seria irónico, vindo de quem vem – e a riqueza da música está, perfeitamente, ao alcance de quem se apressa a encontrar semelhanças com Nick Drake, Neil Young e até Paul Simon. Os pequenos detalhes e texturas ajudam a tornar cada canção numa etapa da mesma viagem e nos deixa com a sensação de ter acabado cedo demais.

Beck cresceu como produtor e artista para quem ouviu Mellow Gold e Odelay - Hoje a Geração X está no desemprego e vive em casa dos pais, mas ele nunca foi preguiçoso, sempre evitou a categorização fácil. No panorama actual há muitos a socorrer-se deste tipo de registo sonoro sem que, como aqui, lhe consigam dar vida.

Ouvir

segunda-feira, 17 de junho de 2013

Sabedoria Impopular

Quando pegas ao serviço numa casa nova, lembra-te sempre: "Não convém ser um bom burro, nem um mau cavalo".

terça-feira, 21 de maio de 2013

Escritos Incompletos - A ti

Gelam-lhe os ossos e o sentimento se lhe escapa. Abriu os olhos e viu-se diante do espelho, lá naquela imagem esbelta e voluptuosa, "impossível... ninguém acorda assim". Mulher fatal desde manhã até à noite.

(...)

Ele sorria sem se notar o branco e perscrutava a sua imagem nos olhos dos outros.  Pelo canto do copo, em tons de dourado, viviam os fantasmas daquelas que escaparam.

O amor para dar, a amizade para os justificar e o falso altruísmo para os mover.

(...)

Mostra os dentes e recebe depois - o golpe - aquele que te chamou ao siso. Ataca-me em juízo, envolve-me na surpresa e o teu riso te quedará ilesa. A suspeita do costume, a tal novidade, vem minando a verdade.

A ti te dou num belo embuste, parecendo saber o que recebo. Não sei realmente o que faço, digo ou penso... estou perdido no teu abraço.

A tua liberdade foi a luz para me acordar. A minha vontade, em ti descobriu a única que poderia amar.

 foto de Neil Krug

quinta-feira, 25 de abril de 2013

A tua voz e acompanhamento de guitarra...

Mais que uma canção, é aquilo que te empurra para um lugar profundo. Sabes onde, quando ouves... é toda emoção e, simultaneamente, vazio.

...dormência, desespero e lamento, bem como, alívio e contentamento. 

Trata-se do que é quando a ouves... não é um estilo nem uma moda, é humano e está vivo.



sexta-feira, 19 de abril de 2013

Sabedoria Impopular

Quem mama não chora. Não o contrário. Posto isto, podes chorar à vontade...

No meu máximo nerdismo autista (quiçá, inspirado pelo Floresta dos Espíritos), liguei hoje para uma editora, perguntando se tinham planos para traduzir mais livros de Jean-Christophe Grangé. Do outro lado, um NÃO bem forte.

Normalmente diz-se qualquer coisa do tipo "de momento não consta nos planos a curto prazo", mas NÃO. Não vamos traduzir mais best sellers desse autor. Será que vão entrar em Insolvência??


terça-feira, 16 de abril de 2013

Popalavras #8


Tão certo como a água da praia varrer as nossas pegadas de Sábado, esperava-me ansiosa nessa manhã de Domingo. Já estava atrasado. Desci os degraus apressadamente, só para voltar atrás pela carteira, "esqueces-te sempre da carteira!". Teria aproveitado mais o sol do meio-dia se não conduzisse como um louco para estar à porta dela, apenas, cinco minutos depois da hora. Quero ser natural quanto a isto, quero mesmo dizer que vi um anjo nesse instante mesmo já não acreditando - "Não dá para ir por aí, bebé!" - tenho de dizer que foi o "bebé" que me levou à estupidez.

Anseio por esta cumplicidade, ouço as palavras queimar no reflexo do meu silêncio e não sei parar isso. Talvez estejamos condenados a ser só um ou a chama nos asfixia debaixo do céu aberto. Nunca me senti tão sozinho, estando tão vivo.

Assaltam-me visões de ti, enquanto passeamos entre pedra e parede, e mais pedra, não te importas, sorris... Dizes-te mal com mundo e moída pela vida - não acredito em ti, estás tão serena. Em queda livre pelo universo, és o eixo da parábola, livre e absolta. - Levas um pouco de mim contigo?

Tu, tu, tu, e tu... há coisas em que não acreditas, aquelas que quero fazer. Quero construir algo e tu nunca o verás acontecer. Continuo a arder, ansiando pelas palavras certas. Como sempre foi connosco. Nunca estive tão sozinho e nunca vivi tanto... e há esta inquietude para subir de nível contra a tua atmosfera.

Para onde foi a alma que quero conhecer? Este jardim é Mal. A superficialidade é tudo e não conseguimos ser assim, não consigo. Tu perceberias... E esta é a nossa última volta, seremos amigos novamente, ultrapassar-te-ei e perguntar-te-ás quem seria eu.

Voltamos para casa. Começa a chover... Tu remas na prancha, só. Prova o sal, prova a dor. Já não pensarei em ti outra vez. As ondas crescem e o sol cai, olhas para aquela vaga deslizando, para te levar para casa.


segunda-feira, 1 de abril de 2013

Pensa Rápido: Palácio Dourado

Para o post 100 queria fazer uma coisa fixe, mas como à redacção chegaram notícias do ano passado irei ter de me debruçar sobre elas antes de fazer alguma coisa.

Assim, tenho o prazer de ser dos últimos a informar que a China anda a reformular as suas reservas de ouro. Como os malandrecos de olhos em bico não permitem a exportação de ouro e têm andado a comprar como se não houvesse amanhã, circulam rumores de que a China está a preparar o lançamento de uma nova moeda, cunhada com ouro.

Ora, supostamente, este rumor tem como base a reformulação das reservas de ouro chinesas em barras de 12,4Kgs para 1Kg. O que poderia facilitar a sua mobilização. Como os chineses são conhecidos pela sua transparência, o resto do mundo retirou dai as suas conclusões. E que conclusões: A China está a preparar-se para dominar a economia global, aumentando as suas reservas de ouro e aguardando pacientemente a implosão do sistema financeiro mundial. Se não for através de uma nova moeda será através de um novo sistema de reservas bancárias.

A nova moeda parece ser uma manobra obscura, pois se não permitem a exportação de ouro, como iriam transaccionar? Entre outras incongruências... No entanto, o ouro continua a ser o investimento mais estável e o mercado cambiário não dorme. Por isso, o chinês pode querer fortalecer as suas reservas para alterar o esquema comercial internacional, demonstrando a sua liquidez financeira. Pode? Ainda não fez nada, o tempo passa (têm vindo a aumentar exponencialmente as suas reservas desde 2003) e o Grande Dragão Vermelho continua em modo business as usual.

Ainda assim, a net é paranóica e eu faço a minha quota-parte: foi descoberto tungsténio misturado em barras de ouro. Aconteceu em NY, claro. O tungsténio é um metal que pesa essencialmente o mesmo que o ouro, mas custa um dólar a onça (bastante menos que o ouro). Ora, se os chinos neste processo de reformulação das suas reservas descobrissem que estas tinham sido adulteradas podiam despoletar uma reacção que obrigaria a uma auditoria global para saber quem andava a vender gato por lebre ou ouro por tungsténio. Podiam até abrandar a corrida ao ouro... e esta?

ISTO É TÃO ANO PASSADO

Numa coisa estes sacaninhas da net acertaram. As moedas físicas baseiam-se na confiança e com a recente jogada alemã no Chipre a confiança anda a quebrar. Isto fomenta o aparecimento de moedas virtuais fora do sistema monetário internacional, como as Bitcoins, cuja principal vantagem reside no facto de não estar debaixo da alçada dos governos. Posto isto, para que quero eu saber das moedas chinesas revestidas a ouro se posso fazer o meu negócio com moedas lowcost? Os chineses e americanos já devem ter chegado à mesma conclusão. Pior, o Chipre devia ter chegado à mesma conclusão, pois se a populaça tivesse pegado nos seus depósitos e os convertido em Bitcoin ainda os tinham no bolso... (já os parentes do presidente Anastasiadis se lembraram de transferir milhões do Banco Popular do Chipre antes da medida ser conhecida).