sábado, 13 de novembro de 2010

Homens Invísiveis


“People who are homeless are not social inadequates. They are people without homes.” - Sheila McKechnie

Os faróis que iluminam a estrada não me procuram e saio-te ao caminho como uma aparição. Não és tu que vejo à claridade. Só quando as luzes se apagam te revelas no frio cá fora. São expressões feitas, onde à tristeza sorris cinicamente. Assim te enganas, nos dias em que o calor não se sente e se gela a alma.

E agora sei que te vou perder por tudo de bom que tenho, sem nada para pedir. Por tudo o que de mau há em ti não serei um mendigo. Não quero entrar, só procuro um abrigo. Não me olhes caído sobre uma arena maior que a tua vida, não receies pelas minhas feridas, pois são só minhas.

Toca-me e sentirás a preto e branco, cenários tão coloridos, que a tua vida te parecerá interessante em comparação. Como se olvidasses o ralo, deixa o veneno transbordar: quero afundar-me nas águas do remoinho, pois à deriva sinto-me a sufocar.

Porque pensas que desisti de viver? Porque te sentes tão afortunado? Sabes se estou aqui realmente? Ou sou alguém quem julgas conhecer?

Sabes? Uns dias por não ter e, acima de tudo, porque é tão fácil esquecer e ser como tu. Acima de tudo, porque se torna tão difícil viver, em consciência, com alguém que não quis ser.

Passarás por mim mais uma vez, iluminado, sabendo que sofri e perdi sozinho. Passarás amanhã nestas ruas vivas, com os náufragos do novo mundo, sem sal nas lágrimas para chorar. Há uma escuridão no caminho, deambulando na noite, que é o meu lar.