terça-feira, 4 de março de 2014

Beck - Morning Phase

Quantas voltas já deu Beck para nos habituar à postura "Bowieana", cuja identidade é não ter uma (pelo menos bem definida)? No entanto, este Morning Phase soa tanto ao Sea Change que parece bom demais para acreditar. Sea Change foi escrito no rescaldo de uma ruptura amorosa e onde antes se cantava num rap-indie-alternativo-pedrado sobre mosaicos sonoros apanhados aqui e ali, deu lugar a um fluxo sóbrio de canções sonhadoras, alargando os tais mosaicos para o horizonte de um passeio nocturno.

Em Morning Phase voltou muito do pessoal que ajudou a fazer o seu brilhante antecessor, tais como Roger Joseph Manning Jr., Jason Falkner and Joey Waronker, bem como, uma fenomenal secção de cordas liderada pelo seu pai. Este álbum distingue-se, sobretudo, pela evocação de experiências diferentes: a noite dá lugar ao crepúsculo, a expansividade à imensidão (os segmentos orquestrais assim inspiram) e languidez nas canções faz mais sentido, ideal para ouvir a dois.

Felizmente, não foi concebido num registo folk purista – seria irónico, vindo de quem vem – e a riqueza da música está, perfeitamente, ao alcance de quem se apressa a encontrar semelhanças com Nick Drake, Neil Young e até Paul Simon. Os pequenos detalhes e texturas ajudam a tornar cada canção numa etapa da mesma viagem e nos deixa com a sensação de ter acabado cedo demais.

Beck cresceu como produtor e artista para quem ouviu Mellow Gold e Odelay - Hoje a Geração X está no desemprego e vive em casa dos pais, mas ele nunca foi preguiçoso, sempre evitou a categorização fácil. No panorama actual há muitos a socorrer-se deste tipo de registo sonoro sem que, como aqui, lhe consigam dar vida.

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