sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Devaneios Febris

Estou a pensar em tornar-me crítico musical. Toda uma nova geração precisa daquela voz sábia e delicada para por em palavras o que lhes vai na alma. Inspirar-me-ei nos clássicos textos de Bret Easton Ellis e na majestosa performance de Christian Bale, enquanto Patrick Bateman. Na verdade a música pop deve ser aprofundada na sua ligeireza contagiante. Como uma infecção, o ritmo apodera-se do nosso inconsciente e segreda-nos maravilhas. Poucos se encontram na disposição, e convenhamos, na capacidade de perscrutar no íntimo do Artista.

A vibração que toca o ser é, na sua plenitude, uma construção idílica. Despojada cada um dos elementos que a compõem perde o seu apelo. Até o pormenor mais subtil reveste tanta ou mais importância que o verso, coro ou ponte. É a estrutura que a eleva à nossa mente, mas são os detalhes que a mantêm lá.

Deixem-me divagar sobre este último aspecto: O aparentemente exíguo é muitas vezes a gota que faz transbordar o rio. Aquilo que nos leva para lá do razoável e nos entrega a pulsões quase demoníacas. Quantos de nós não caímos na ânsia de estrangular uma perfeita estranha numa discoteca... só porque está a passar a Toxic da Britney Spears. Naquele momento somos confrontados com um ardor imenso que nos leva a ignorar os meios, eliminando qualquer réstia de calculismo... de repente, é David Guetta e Kid Cudi que invade o ouvido - aí, aí tudo muda - imolação vem à cabeça, mas quem sabe, não é?

Um exemplo clássico será o Gangnam Style do Psy. Ora, quem é que aquele filho de p... julga que é para conspurcar o universo?! Estou a suar em bátegas, enquanto assisto a um coitado nos seus anos púberes a dançar e grasnar essa cantoria, só para se tentar integrar junto do grupo de desleixados que se dizem amigos. O poder desumano do som impele e expande o desejo de matar. Passando a mão pelo cabelo, limpo o suor da testa e resisto inutilmente, simplesmente por capricho. Em seguida irrompo pela sala, qual cavaleiro medieval armado com a sua lança - na realidade, o pé de um cálice partido - e projecto-me contra o seu peito. A íntima relação do vidro, do ouvido e das colunas permite-me desfrutar de toda a vibração da "arma" a penetrar na carne e alojar-se no pulmão, enquanto o vermelho do sangue escorre para o chão. Sexy lady, hei! Sexy lady... ecoa no rasto de pavor da multidão em fuga.

Como não apreciar as dádivas musicais com que somos presentados?

6 comentários:

JP disse...

Eu pensava que o mundo iria acabar ao som de gaita de foles (música feita com "bagpipes" é, para mim, tortura do pior), mas afinal vai ser ao som do Gangnam Style. Estou mais descansado, pelo menos não me faz tão mal (?) aos ouvidos.

Tenho uma pergunta para fazer há algum tempo: porquê "ostras estragadas"?

Fonemas Invertebrados disse...

Eu prefiro gaitas de foles, pois será mais consensual lol

As "ostras estragadas" é quando passo a debitar bílis, vomitar palavreado, ódio gratuito... por aí na lista de coisas a evitar ao corpus sanus ;)

Dexter disse...

Só para te deixar ainda mais revoltado, escreveste mal o nome de um "artista". O nome é "Kid Cudi". Acho eu.

Fonemas Invertebrados disse...

Que o rapaz não se sinta desconsiderado lol Vou alterar... mas, tu sabias?? :P

Dexter disse...

A minha esposa gosta de uma música dele :p

Fonemas Invertebrados disse...

Ela ainda não leu este texto com certeza lol