quarta-feira, 21 de abril de 2010

A Máscara: Conclusão – La Casa dalle Finestre Che Ridono

Se leram até ao fim lamento desiludir-vos (ou não mesmo) que a ficção acabou no “finalmente”. Antes, impõe-se uma nota final, um agradecimento especial ao Zica, que incentivou a desenvolver esta história, viu-a para além do que eu vi e fê-la dele antes de ser minha.

Originariamente, escrevi as duas primeiras partes como uma reflexão, um pensamento meio solto, meio dirigido... como já estão habituados, certo? A premissa base era a de uma mulher vítima de um crime violento, neste caso a violação (não que se pretenda banalizar ou sequer retratar, mas o oposto) e o modo como isso a transforma. Mais universalmente falando, a tónica da história está no modo como as pessoas lidam com os seus traumas.

O tema da máscara pareceu-me adequado e foi usado como título pela simbologia, que unifica os dois lados do trauma, a vítima e o agressor (ou assassino...). Como muito do que escrevo aqui, este paradigma é um exemplo absoluto, destinado à relativização, isto é, ninguém é imaculado, todos são capazes de se identificar numa situação traumática. Todos usamos máscaras e só as tiramos ou mostramos, a quem e quando queremos.

Se nas duas primeiras partes, essa ideia é vaga e etérea, a partir daí torna-se bastante mais palpável. Ambas as personagens têm um passado que as marcou de alguma maneira (Laura com o abuso do corpo e Carlos abusado por Laura) e tentam-no mascarar. O crime, o trauma, só vem tirar essas máscaras e mostrar a “face” alterada das personagens. Veja-se: Ela escolhe reagir através de uma postura agressiva contra todas as pessoas em geral, sonhando até estar na pele do assassino (na “realidade” não tinha morto ninguém, mas, figurativamente, Laura sentiu que uma parte dela morreu e reviu-se nesse prisma), acabando por se tornar “nele”; Carlos foi magoado por ela e acabou por ser a violação a reuni-los, a fazê-lo estender a sua mão de novo, acabando por sair mal outra vez.

Aliás, o caminho e as mudanças que os personagens tomaram, já estava dentro deles: Laura ao início, teve uma premonição, de uma mulher de escamas que lhe dizia algo; e ele optou sempre por voltar para junto dela, só para ser afastado. Portanto, tratou-se um ciclo, desenvolvendo-se a narrativa dentro dele. Sendo as 2 partes iniciais a premissa base de toda a história (vagas e ao mesmo tempo precisas, como se fossem um sonho tornado real...): um crime; uma mulher altiva e manipuladora; e um homem que não a pode ter, sabe disso, mas por sina, fado ou destino é atraído para ela como o metal para o íman.

No fim, acaba por ser um pouco a história de todos nós ou pelo menos a minha, já que me assumo como um romântico inveterado. A humanidade construiu-se a lutar contra o destino, sempre a desafiar o impossível. Este pseudo conto revê-se nisso, ainda que, numa visão bastante pessimista.

PS: os sub-títulos em italiano são obviamente referências ao cinema choque de terror e mistério (giallo e zombies) dos anos 70. Só para reforçar o aspecto sórdido da narrativa.

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