sexta-feira, 15 de março de 2013

Popalavras #7


Temos aqui nos estúdios o famoso detective do Facebook (por razões profissionais não iremos divulgar o seu nome). O nosso convidado tem como espaço profissional A Rede Social e campo de operações o seu computador portátil, iPhone ou Android

E: Diga-nos, qual é mesmo a natureza do seu trabalho?
D: A natureza é investigativa. Maioritariamente sou um observador, mas adopto uma postura instigadora quando necessário. Deduzo a verdade da acção das pessoas na rede e reporto-a ao cliente.

E: Ou seja, é um stalker pago a peso de ouro...
D: Não, não de todo. Uso método e nunca encaro o "cenário" do ponto de vista pessoal. Estou ali para fornecer informação, para a reproduzir e multiplicar. Prepare-se para ficar espantada: por exemplo, se o Zé anda a cortar a foto de perfil é porque está a dar numa de gay e não quer ser visto com o "amigo". E muitas vezes não sou pago por isto!

E: Uma alma caridosa. Explique-me como o faz, conte-nos um caso dos seus.
D: Parto de premissas muito simples. Está a ver o diamante roubado do Louvre a semana passada? Ora, a minha vizinha actualiza o estado e como carrego no "refresh" ("actualizar", para quem não está por dentro dos termos técnicos) a cada três segundos, vi logo que "Um sorriso daqui até à lua, sinto-me a brilhar hoje" não era propriamente inocente: Daqui à França é tão longe como a lua para quem não tem posses; brilhar é código universal para diamantes; e o resto é conversa... Foi o primeiro caso que reportei à Interpol.

E: Fascinante. O que sucede depois? Deixa as autoridades tomar conta do assunto?
D: Nesta situação sim. Até lhe digo mais, eles não tinham arcaboiço para lidar com as coisas no terreno e só interagimos via mail, nem quiseram falar comigo dada a urgência. No entanto, trabalho com assuntos mais quentes, não sei se está a perceber...

E: Elucide-me, por favor.
D: Casos de faca e alguidar. Se o João anda a trair a Maria com a irmã ou se a filha do Mário anda a comer morcela, vês? Ainda ontem mandei mensagem a uma senhora dos seus 40 anos e mãe de família, dizendo-lhe que estava interessado numa amizade sincera (linguagem universal para "comer e andar") e ela aceitou.

E: Continue...
D: Não há muito mais a dizer, vi logo que as coisas não são o que parecem. Anda à procura de novas sensações... A mulher do César não parece nem é séria. 

E: A sua consciência nunca o incomoda?
D: Nem um pouco. Sou incorruptível, se por vezes levo um toque ou pedido de amizade suspeito não me deixo pressionar. Estas são pessoas perigosas e o véu da segurança atrás do ecrã é uma ilusão, isto envenena a mente e conduz ao auto-abuso. Já viu certas poses?!

Infelizmente, não temos tempo para mais. Ainda assim, são revelações chocantes, devastadoras e implacáveis da realidade a que ainda não tínhamos sido apresentados. O mundo como ele é.

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