Estou a pensar em tornar-me crítico musical. Toda uma nova geração precisa daquela voz sábia e delicada para por em palavras o que lhes vai na alma. Inspirar-me-ei nos clássicos textos de Bret Easton Ellis e na majestosa performance de Christian Bale, enquanto Patrick Bateman. Na verdade a música pop deve ser aprofundada na sua ligeireza contagiante. Como uma infecção, o ritmo apodera-se do nosso inconsciente e segreda-nos maravilhas. Poucos se encontram na disposição, e convenhamos, na capacidade de perscrutar no íntimo do Artista.
A vibração que toca o ser é, na sua plenitude, uma construção idílica. Despojada cada um dos elementos que a compõem perde o seu apelo. Até o pormenor mais subtil reveste tanta ou mais importância que o verso, coro ou ponte. É a estrutura que a eleva à nossa mente, mas são os detalhes que a mantêm lá.
Deixem-me divagar sobre este último aspecto: O aparentemente exíguo é muitas vezes a gota que faz transbordar o rio. Aquilo que nos leva para lá do razoável e nos entrega a pulsões quase demoníacas. Quantos de nós não caímos na ânsia de estrangular uma perfeita estranha numa discoteca... só porque está a passar a
Toxic da Britney Spears. Naquele momento somos confrontados com um ardor imenso que nos leva a ignorar os meios, eliminando qualquer réstia de calculismo... de repente, é David Guetta e Kid Cudi que invade o ouvido - aí, aí tudo muda - imolação vem à cabeça, mas quem sabe, não é?
Um exemplo clássico será o
Gangnam Style do Psy. Ora, quem é que aquele filho de p... julga que é para conspurcar o universo?! Estou a suar em bátegas, enquanto assisto a um coitado nos seus anos púberes a dançar e grasnar essa cantoria, só para se tentar integrar junto do grupo de desleixados que se dizem amigos. O poder desumano do som impele e expande o desejo de matar. Passando a mão pelo cabelo, limpo o suor da testa e resisto inutilmente, simplesmente por capricho. Em seguida irrompo pela sala, qual cavaleiro medieval armado com a sua lança - na realidade, o pé de um cálice partido - e projecto-me contra o seu peito. A íntima relação do vidro, do ouvido e das colunas permite-me desfrutar de toda a vibração da "arma" a penetrar na carne e alojar-se no pulmão, enquanto o vermelho do sangue escorre para o chão.
Sexy lady, hei! Sexy lady... ecoa no rasto de pavor da multidão em fuga.
Como não apreciar as dádivas musicais com que somos presentados?